Testemunhos Cycle Chic
Há já algum tempo, que venho a pensar nesta ideia, de início inspirada pelo blog inglês ibikelondon. Entretanto o Miguel Barbot, tem vindo a publicar os fantásticos testemunhos a pedal, por parte de utilizadores de bicicleta do Norte, e também lá por cima, o Victor Domingos tem feito uns artigos e entrevistas.
Assim, lanço o desafio para que enviem para cá, os vossos testemunhos Cycle Chic… Qual a utilização que fazem da bicicleta? Quais os percursos? Como começaram? Que conselhos oferecem a quem pensa começar ou a quem ainda está a dar as primeiras pedaladas? O que quiserem…
Podem escolher qual o modelo que preferem: responder às questões que o Mark coloca no ibikelondon, ou seguir uma prosa mais descritiva, como nos testemunhos a pedal do 1PnP ou se tiverem mesmo muito que contar, um texto mais longo como o que vou colocar – o da minha “história”. Por favor juntem uma(s) foto(s) vossa(s), ou apenas da vossa bicicleta… ou outra que ilustre bem o artigo. Enviem para info_at_lisboncyclechic.com
Obrigado!
O meu testemunho Cycle Chic
Aos poucos, pelo que tenho escrito, já muitos têm uma ideia da utilização que faço da bicicleta. Este texto já não é novo – publiquei-o noutras paragens, com menos audiências, mas aqui fica, actualizado e revisto.
Todos nós fazemos opções, mas são frequentes as “desculpas” de quem não sabe deslocar-se de outro modo que não o carro, e são diversas as soluções à nossa disposição, para resolver a questão da mobilidade. Também eu tive durante muitos anos, muitas desculpas. Aqui fica o relato de como mudei a minha vida. Não foi de um dia para o outro…
… mas foi assim:
Há 4 anos, quando procurava um local para instalar o meu atelier, coloquei uma premissa – teria de ser a uma distância de minha casa que me permitisse ir a pé ou de bicicleta para lá. Na altura, a nossa “frota” de veículos lá em casa, era dotada de 1 carrinha familiar, 1 citadino, 1 mota 600cc e 3 bicicletas de BTT (uma delas “convertida” para cidade/estrada – pneus com piso mais liso, transmissão com relações diferentes e suporte simples de carga). Embora andasse desde 1991 de bicicleta na cidade, o seu uso sempre foi relativamente reduzido. Em 1998, quando comecei a dar aulas perto das Olaias, tentava ir uma vez por semana de bicicleta (15Km para cada lado) – algumas semanas ia mais do que uma vez, outras acabava por ir sempre ou de carro ou de mota. Mas a realidade é que fui um “viciado” do automóvel desde 1995, quando adquiri o meu primeiro carro.
Avançando até 2007, apesar do atelier a cerca de 1Km de casa, acabava por fazer uso do carro mais frequentemente do que desejaria – isto porque sendo pai de 2 crianças, muitas vezes calhava-me a mim, a tarefa de os levar ao colégio, que se situa a uma distância tal, que impossibilitava levá-los a pé – quando só tinha que levar 1, por vezes fazia-o na cadeirinha da bicicleta. Ainda assim, costumava deixar o carro parado durante o dia, e fazia inúmeras deslocações na zona, a pé ou a pedal. Mas a minha profissão obriga-me a várias deslocações ao centro de Lisboa, e se por vezes o fazia de bicicleta, outras tantas socorria-me do automóvel ou da mota. Havia também alguns dias, em que precisava de levar mais umas tantas coisas para o atelier ou tinha de ir às compras, e já não cabiam na bicicleta – lá tinha mais uma vez de pegar no carro.
Durante este período, a minha consciência social e ambiental foi-se alterando, e comecei a sentir que ainda assim, estava a fazer menos do que podia. Passei a fazer um uso maior dos transportes colectivos. Da mesma maneira, a minha mulher, passou a deslocar-se para Lisboa sem recorrer ao seu carro. Estas nossas deslocações, ganharam ainda mais versatilidade e rapidez, ao adquirirmos uma bicicleta dobrável, a qual pode ser transportada gratuitamente e sem restrições de horário no autocarro ou no metro (já o fazia com a bicicleta normal nos comboios da CP, onde o mesmo já é possível há alguns anos desta parte). Ao contrário do que muitos pensam, andar de transportes públicos não nos faz perder tempo, mas sim ganhar – mesmo que a viagem não seja mais rápida do que de automóvel (embora às vezes até seja), o tempo passado dentro de um autocarro ou comboio, pode ser aproveitado para ler, por exemplo.
Com a melhoria da forma física, também o nº de deslocações integrais em bicicleta aumentou, pois a facilidade com que faço certos percursos sem ficar “ensopado em suor”, assim o permite.
E começámos a “emagrecer”
Tinha mota desde 1998, e desde que nasceu o meu primeiro filhote, a sua utilização caiu bastante. Com o nascimento do segundo, e a mudança do meu local de trabalho para relativamente perto de casa, praticamente deixou de ser usada (no último ano que a tive, a mesma andou menos de 1000Km). Foi então a primeira coisa a ser decidida – a mota seria vendida. Se algum dia voltar a considerar ter mota, será uma até 125cc ou eléctrica, mais económica, e para que tanto eu como a minha mulher possamos usá-la.
No final de 2009, consegui resolver a questão do transporte das crianças – adquiri uma Xtracycle. Trata-se de uma extensão que se adapta à maioria das bicicletas, e lhes confere uma capacidade de carga enorme, não só de objectos, como de pessoas. Ao contrário de outras bicicletas de carga, ou de um reboque, a condução da bicicleta com esta extensão, não é muito diferente – fica um pouco mais pesada, mas fica também mais confortável, graças à maior distância entre eixos. Desde então, passei a levar os miúdos à escola quase sempre desta forma, e desde que não esteja a chover à hora que saímos de casa, aí vamos nós – se no regresso eu apanhar chuva, já não há problema, pois com uma capa de chuva ou um blusão impermeável, passa-se bem. Quando está a chover mais, lá os vou levar de carro, mas volto a deixar o mesmo na garagem do prédio, e pego na bicicleta antes de ir trabalhar – com a chuva posso eu bem. Assim, transportar objectos volumosos, ir ao supermercado ou mesmo transportar outra bicicleta, deixou de ser um problema – faz-se tudo de bicicleta!
Desde essa altura, e até Junho de 2010, contaram-se pelos dedos das mãos, o nº de vezes em que os 2 carros saíram da garagem em simultâneo. Com tempo quente, tempo frio, chuva, sol – o teste estava feito, e confirmámos o que já antes tínhamos ponderado – iríamos ficar apenas com um carro. Pontualmente, se necessitássemos de mais um carro, recorreríamos ao car sharing da Carris, pois temos um parque perto de nossa casa. (Até à data, isto nunca aconteceu – as poucas situações onde tal seria necessário, foram sempre solucionadas com outras alternativas mais económicas ou versáteis. O facto de o automóvel ter de ser entregue na mesma estação onde é requisitado, torna o serviço muito pouco apetecível)
Como a carrinha já estava velha, e o citadino não dava conta do recado nas restantes deslocações que sobravam (saídas de fim de semana em família, deslocações a casa da família nos arredores de lisboa, férias, etc) optámos por por vender os dois, e comprar uma carrinha quase nova – contas feitas, vendemos os 2 carros e a mota, e quase não foi necessário juntar mais dinheiro para termos um carro (quase) novo. Continuando com as contas, só o facto de passarmos a ter um carro em vez de dois, e tendo em conta que os gastos em combustível e portagens eram já reduzidíssimos, e os carros já não eram novos, esta opção significa uma poupança de cerca de 2.500 a 3.000 Euros/ano em gastos com 1 automóvel (desvalorização, oficina, seguros, etc). Os custos por detrás da utilização do carro, estão muitas vezes escondidos, e para um automóvel novo, e uma utilização maior, facilmente estes valores sobem para cima dos 4.000 ou 5.000 Euros/ano. Agora pensem em quantas horas trabalham por dia, só para “alimentar” a posse do automóvel.
E não foi só na despesa que se cortou por aqui – só em 2010, sem fazer dieta, perdi 6Kg e assim recuperei o peso que tinha aos 18 anos.
Hoje em dia
Os meus percursos de bicicleta continuam variados. Mas quase todos os dias, saio de casa com os dois pequenos, deixo o mais velho no Jardim de Infância que fica a menos de 1Km de casa, e sigo com o mais novo, para o colégio dele que fica a 3kms de distância. Dirijo-me então para o atelier, percorrendo mais uns 4 Kms. Estes percursos são feitos por ruas e estradas de características diversas. Vou almoçar, sempre de bicicleta, fazendo mais 2 ou 3 Kms e ao fim do dia, mais 1Km para regressar a casa. Se tenho de levar os miúdos à natação ou outras actividades aqui nas redondezas, a opção é quase sempre a mesma. Nestas pequenas deslocações, a bicicleta é frequentemente mais rápida do que o automóvel. Só no “giro matinal” é que fica a perder ligeiramente – mas estamos a falar de uma diferença de 5min.
Para além desta rotina, e como referi anteriormente, vou com alguma frequência a Lisboa. A bicicleta é uma constante, variando apenas se faço a viagem inteiramente de bicicleta, ou se combino com os transportes colectivos. Se vou de comboio, posso levar qualquer bicicleta, mas muitas vezes apanho o 748 da Carris, que me deixa no Marquês de Pombal em menos de 15min, levando comigo a Brompton. Já quando tenho de me deslocar para locais onde a cobertura de transportes é mais fraca ou inexistente, e as distâncias mais longas, continuo a recorrer ao automóvel.
Ao fim de semana, sempre que o destino assim o permite, continuo a utilizar a bicicleta. Mas a carrinha faz cada vez menos kilómetros, pois as nossas escolhas passaram também a ter em conta, o impacto das nossas deslocações.
E vocês, estão prontos para mudar a vossa vida? Ou já mudaram?
Fico à espera das vossas contribuições!
Protestar de Bicicleta (II)
O Miguel Carvalho, enviou-me mais estas fotografias, tiradas por ele na manifestação de dia 12:
Apontou-me também na direcção das fotos do blog já nosso conhecido, “Diário de Lisboa” – excelentes retratos, um deles do José Manuel Caetano, presidente da FPCUB, na sua bicicleta:
Protestar de bicicleta
Sábado foi o dia da maior manifestação das duas últimas décadas. Há quem não tenha gostado da forma, do conteúdo, dos motivos, enfim… muito se pode dizer, mas não me vou alongar sobre o assunto por estas paragens. Eu fui a pé, mas houve quem escolhesse ir de bicicleta:
Uma bicicleta de carga, mesmo com a transmissão num estado lamentável, continua a mostrar o seu enorme potêncial – neste caso, serviu para ajudar a matar a sede:
Este casal (francês?), foi apanhado no meio da manifestação – vi-os primeiro na Av. da Liberdade, e ao fim da tarde, fotografei-os já aqui na Calçada do Carmo. Viajantes de bicicleta, com um filho de 2 ou 3 anos lá atrás!