Aproveitando este dia especial, entendi falar não apenas das mães mas das mulheres em geral e da sua relação com as bicicletas. Isto porque acabei de ler um capítulo do livro City Cycling (que recomendo) com o mesmo título deste artigo. Não vou transpor para aqui tudo o que li, mas é fácil resumir a ideia geral.
Qualquer país que ambicione aumentar significativamente o uso da bicicleta, tem de se preocupar em criar condições para que as mulheres possam pedalar – aliás, nos países onde o uso é elevado, a paridade de género é uma constante; nos países onde a bicicleta é apenas um desporto, algo para atletas, entusiastas ou “jovens aventureiros”, a percentagem de mulheres em relação aos homens é francamente inferior.
Não é que elas estejam mais expostas ao risco, mas a percepção que têm do mesmo é em geral maior, e são muito menos propensas a recorrer à bicicleta quando as condições para se pedalar são longe de ideais. Se virem o video do Timothy Papandreou, em S.Francisco estabeleceram 4 Níveis de Stress de Tráfego (LTS), e o sexo feminino dificilmente pedala em zonas com LTS 4 (ou seja, no meio dos carros com velocidades e volumes de tráfego elevados). Esse é por vezes o problema de muitos utilizadores experientes de bicicleta – avaliam o risco e as condições de “ciclabilidade” pela percepção individual que têm do espaço público. Mas para quem não anda de bicicleta, ou anda pouco e tem uma experiência francamente reduzida, essa percepção é muito diferente… Por vezes basta fazer a seguinte pergunta: eram capazes de sugerir a uma criança com 10 anos para pedalar sozinha num desses locais?
Muito do que pode ser dito em relação às mulheres, está também associado às crianças e à segurança necessária para as mesmas andarem ou serem transportadas de bicicleta. Não se trata de dizer que as mulheres são mais frágeis e têm de se comportar de uma determinada maneira – nada disso. O referido livro têm muitos dados estatísticos que permitem fazer estas constatações, apenas isso.
Juízos de valor à parte, em geral as mulheres têm padrões de deslocação distintos dos homens, com muitas pequenas viagens, incluindo transporte de crianças, etc – e ao contrário do que muitos possam achar, são precisamente muitas destas viagens que têm um grande potencial de serem feitas de bicicleta.
Mas como diz a frase da imagem inicial (é a conclusão do capítulo que referi, traduzida livremente por mim), há primeiro que resolver toda uma multitude de obstáculos que acabam por ditar a escolha do meio de transporte e consequentemente do estilo de vida que levamos.
Este foi também um dos motivos que me fez criar a versão Lisboeta do Cycle Chic – tentar chegar mais ao público feminino, e olhando para as estatísticas de quem gosta da página no Facebook, dá para perceber que pelo menos paridade no género já existe por lá:
Assim, aproveito o mote para lançar um desafio, pois queria ampliar a equipa do Cycle Chic. Procuro alguém que entenda bem o espírito da página, que tire fotos razoáveis (se forem excelentes melhor), mas com uma perspectiva no feminino. Ou seja, gostava que a pessoa que estivesse disposta a colaborar fosse mulher. Não ofereço nada, a não ser o espaço para mostrar a sua perspectiva, mas também não exijo quase nada, pois é um compromisso quase sem obrigações. Fico à espera de quem aceite o desafio – podem enviar as candidaturas para o e-mail info_at_lisboncyclechic.com – obrigado!