Fiquei a conhecer “virtualmente” a Ana há uns tempos, quando um amigo em comum nos colocou em contacto para lhe dar a minha opinião sobre a Xtracycle. Ela estava à procura de uma solução para pedalar com os filhos. Entretanto, no mural de uma outra amiga em comum (o mundo é mesmo pequeno), encontrei este testemunho já antigo da Ana e pedi-lhe se o queria partilhar connosco neste espaço. Aqui fica:
Carta escrita a uma mãe, trabalhadora e doméstica, assoberbada com o seu quotidiano, que acreditava que o uso diário da bicicleta se destinava apenas às pessoas independentes e descomprometidas…
“Olá Maria Margarida! Como eu a entendo… 🙂 Lá em casa somos 3: eu e os meus gémeos de 7 anos. Estaria um dia inteiro a falar-lhe das maravilhas e benefícios de andar diariamente de bicicleta, mas não é essa a sua questão. Eu não sou fundamentalista de nada e não tenho dúvidas de que nem todas as pessoas têm uma vida diária que lhes permita utilizar a bicicleta como meio de transporte principal. Vou apenas dar-lhe o meu exemplo e algumas sugestões, que espero que sirvam para muitas outras mulheres. Com ou sem bicicleta, a nossa vida é sempre uma loucura e uma corrida contra o relógio. A diferença é que a bicicleta torna o nosso dia muito mais feliz e isso tem repercussões em tudo o que nos rodeia. Fiz esta mudança há 2 anos. Tudo me parecia impossível e até hoje continuo a aprender e a adaptar-me. Nem sequer o fiz por questões ecológicas e altruístas, mas sim porque o passe tornou-se num bem de luxo… Acho que a solução que encontrei é a que se adapta à maioria das mães de hoje: arranjei uma bicicleta dobrável que está sempre na bagageira do carro. Depois de deixar os miúdos na escola, deixava o carro estacionado às portas de Lisboa (onde não se pagasse) e seguia de bicicleta para o Chiado. Como o percurso não era muito longo e tinha sítio para trocar de roupa, fazia isto quer chovesse quer não. Este ano, com um Inverno tão chuvoso e um percurso bem mais longo para fazer, tive que recorrer mais vezes à Carris… Depois mudei de emprego para o Restelo, bem lá no alto! Primeiro pensamento: Impossível!! Mas resolvi tentar e, 17km e 1h depois, quase sem fôlego para falar, só pensava: Consegui!! 🙂 É verdade que (infelizmente) estava a trabalhar em horário reduzido mas, o que lhe quero transmitir é que cada caso é diferente e só a Maria é que pode saber como contornar os seus obstáculos. Na hora de almoço aproveito para ir ao supermercado e comprar apenas o que faz mesmo falta e cabe nos alforges. Voltei a mudar de local de trabalho e agora vou directamente da Portela para o Saldanha. Deparei-me com novos entraves: muitas subidas e ter de circular em estrada. Nunca ir para o trabalho foi tão excitante como agora! 🙂 Se nalgum dia tenho de, por exº, levar os miúdos ao médico, deixo o carro a meio caminho e faço o resto na dobrável. Actualmente, estou a tratar de adquirir novos acessórios para, no próximo ano lectivo, irmos os 3 de bicicleta até à escola. Há uns meses também achava impossível… Levo muito tempo a estudar quais as melhores opções, os custos, a segurança, mas tenho a certeza que este é o melhor investimento que eu posso fazer na minha vida familiar. Como super-mães que somos, temos que ter sempre uma grande capacidade de adaptação às mudanças e imprevistos. Talvez a Maria não possa usar a bicicleta todos os dias, em todas as circunstâncias, mas garanto-lhe que se começar a dar pequenos passos, depressa vai querer adaptar a sua vida à bicicleta, em vez do contrário. 🙂 O stress diário e algumas frustrações vão sempre existir, mas a bicicleta fez de mim uma melhor mãe e os meus filhos agradecem 🙂 (esta parece saída de um anúncio de detergentes!). As pessoas independentes e descomprometidas têm uma vida muito mais facilitada, mas não têm a motivação e a força que os filhos nos dão. Eu que nem gostava muito de andar de bicicleta… ”
O mais importante foi a resposta da Maria Margarida: mudara a sua perspectiva em relação ao uso da bicicleta e sentia-se motivada a dar as primeiras pedaladas 🙂
Depois deste testemunho, já encontrou solução para levar os filhos à escola: comprou um FollowMeTandem, que permite que um dos gémeos vá a pedalar. O outro vai num assento especialmente adaptado ao suporte de carga da bicicleta.
Soluções há muitas… haja vontade! Quanto à Maria Margarida, acho que todos nós gostaríamos de ver o testemunho dela um dia aqui no blogue. 😉
Ao ler artigos destes, fico realmente contente pela cultura de utilização de bicicleta estar a tomar grandes passos no nosso país. Partilho da mesma opinião da Ana… é possível. Quando vimos a utilização da bicicleta enquanto forma de estar, viver, com cidades ajustadas à realidade, percebemos que é fundamental a mudança de estilos de vida…para bem de todos. Quero com isto dizer, que às vezes é preciso tentar e acreditar, se calhar em vez de demorar 15 minutos a chegar ao trabalho posso demorar um pouco mais ou até menos. À Maria Margarida desejo-lhe boas cicladas por Lisboa.