Depois da review à Globe Live, chegou cá esta outra bicicleta, mais uma vez gentilmente cedida pela Specialized Portugal. São bicicletas relativamente semelhantes, embora com detalhes que as diferenciam – por isso nesta review haverá muita comparação com o modelo testado anteriormente. A Haul é também uma bicicleta utilitária, adequada tanto a circuito urbano, como a estradas e caminhos suaves em meio rural.
A posição de condução é ligeiramente mais caída nesta bicicleta, muito por culpa do diferente guiador, mas continua a ser relativamente vertical e confortável (continuo a lembrar, que no meio do trânsito, a posição vertical e mais elevada do nosso tronco, permite uma muito melhor percepção do que nos rodeia – não é à toa que, Europa fora, o mais comum são bicicletas que permitem esta postura).
Chegamos então à maior diferença entre as duas bicicletas, e que é bem visível – a Live era dotada de um enorme tabuleiro frontal; esta por sua vez, tem um suporte de carga traseiro integrado no quadro, com capacidade até 50Kg. A distância entre eixos é também ligeiramente superior, mas nada que se sinta muito na utilização diária. Este suporte permite a colocação de alforges ou, graças à sua robustez, utilizações mais “criativas”:
A bicicleta é toda ela em Alumínio – mais uma vez, as rodas de grande diâmetro (700C) conferem-lhe um conforto aceitável. Utiliza o mesmo cubo Shimano Nexus de 8 velocidades – funciona bem, com as relações bem escalonadas, permitindo vencer inclinações mais exigentes, mas sem comprometer a velocidade atingida em percursos planos, onde se rola facilmente acima dos 30Km/h. Só uma nota negativa para a opção de comandos de gatilho – na Live eram por punho rotativo. Considero os comandos de gatilho (trigger shifters) mais adequandos a mudanças de desviador e os punhos rotativos do tipo gripshift ideais para mudanças de cubo com muitas velocidades, como é o caso.
Também na travagem, há aqui diferenças para a Live, e no meu entender, para pior – as rodas elegantes de grande diâmetro, não têm a rigidez necessária para aguentar a carga que os travões de disco que equipam este modelo as sujeitam, sendo notória a deformação das mesmas quando se trava abruptamente. O comportamento dos travões de disco mecânicos da Tekro é eficaz, mas a opção por v-brakes na Live era mais adequada.
O selim em pele que equipa estas bicicletas, é sem dúvida confortável e bonito. Quanto ao descanso, surge colocado um pouco mais à retaguarda que o habitual, para garantir a estabilidade da bicicleta quando tem carga no suporte traseiro. Mais uma vez o detalhe interessante da Globe – o emblema que é uma moldura onde podemos colocar uma foto, um desenho… ou o logotipo do Lisbon Cycle Chic.
Na Live os pedais eram de fraca qualidadae, mas estes da Haul são bem melhores. Igualmente a Live não tinha luzes, e esta já trás uma luz traseira de boa qualidade, mas a frontal é muito fraquinha, esteticamente mal conseguida e mal direcionada. Continuo a achar que estas bicicletas deviam vir com dínamo de cubo (pelo menos como opção, uma vez que um upgrade deste género, obriga a refazer a roda diânteira).
De resto vem muito semelhante à Live, mesmo na solução do eixo pedaleiro dentro de um excêntrico que permite deste modo afinar a tensão da corrente. Igualmente, vem dotada de algum equipamento obrigatório em qualquer utilitária: guarda-corrente (que embora não seja integral, cumpre bem a sua função) e guarda-lamas de grandes dimensões.
A bicicleta custa 899€, um pouco mais cara que o modelo testado anteriormente. No entanto está também disponível numa configuração mais económicas, nomeadamente sem travões de disco e com mudanças de desviador.
Tal como eu, a T. também preferiu a Live, mas fica muito bem nesta:
Como em tudo, são preferências pessoais… já o David Fonseca (sim, o músico), ao que parece, ficou encantado com a sua Haul…
900 “mocas” por uma bike é muito carcanhol, ainda por cima quando há bikes bem jeitosas no mercado por menos de 1/4 desse preço.
Provavelmente terá excelentes acabamentos, mas mesmo assim… meu caro Miguel é possível ser “chic” com menos massa (e não estou a falar da “crítica”).
899€ é muito dinheiro de facto,
Mas aqui não podem ou não devem na minha opinião aparecer só bikes à antiga ou com história. Devem aparecer novas, velhas, e todas as que tenham estilo.
Algumas Brompton custam 2000€ e são bikes dobráveis, não deverão por isso aparecer em teste no Cycle Chic?, ou só as Órbita novas e as YeYe antigas é que devem aparecer?
Não será esta bike Specialized Haul uma bike que seja Cycle Chic?
Acho que o Francisco está errado. Pode-se ser chic com pouca massa, mas com muita massa consegue-se ser muito mais 🙂 , viva a massa!
De resto acho este teste excelente, só não concordo com a questão do grip shft ou não. Eu pessoalmente gosto mais de gatilho, mas concordo que o grip shift seja mais cómodo para quem começa.
A relatividade do dinheiro é sempre algo interessante. É indiscutível que para muitos, 900€ serão sempre muitos Euros! Mas muitas vezes quem acha caro, são as mesmas pessoas que não hesitariam em gastar mais 1.000 ou 2.000 euros em extras supérfulos na compra do seu automóvel.
Mas é também preciso perceber o que se compra com mais ou menos dinheiro. Algo que torna esta bicicleta mais cara, é o cubo traseiro de 8 velocidades. Só este cubo, representa 1/4 do valor da bicicleta. Juntemos-lhe mais umas tantas coisas, e começamos a perceber o porquê do preço. De marca para marca, varia o factor “bang for buck”, mas olhando para a oferta europeia de bicicletas utilitárias, percebemos que secalhar 900€, nem é assim tanto dinheiro por uma bicicleta.
É a consequência do preço das bicicletas de hipermercado… ficamos formatados a pensar que o valor base são 100€, logo uma por 200€, já deve ser mais que suficiente. Falando novamente em automóveis, seria como estes começarem a ser vendidos nos hipermercados por volta 2.000€. O problema é quando começamos a utilizar todos os dias, e o material começa a sucumbir…
Podemos ser chic com uma bicicleta cara ou com uma barata. Não é isso que aqui está em questão. Faço os testes a estas bicicletas, porque a marca as disponibilizou para o efeito. Um dia destes surgirão aqui mais dois testes, embora por um motivo diferente: são as bicicletas que eu tenho, e por acaso até são mais caras que estas. Se mais alguma marca quiser que eu teste bicicletas ou outros produtos, basta entrar em contacto comigo.
Quanto ao “grip/trigger shifter”, eu não disse que um é melhor do que o outro – apenas digo que os comandos de punho se adequam melhor a cubos com várias mudanças e os gatilhos se adequam a desviadores. Porquê? Porque os gatilhos são sequênciais, e se num desviador convém mudar uma mundança de cada vez, já num cubo com mudanças internas, por ex., podemos mudar da 1º para a 8º com a bicicleta parada – o comando de punho permite isto num só gesto. Não dá muito jeito estar ali a dar 7 gatilhadas.
Posso “meter uma cunha” ?
Era para fazer o teste da Specialized Epic Comp 29er quadro de alumínio.
Ando cheio de vontade de a comprar, mas o preço (2900 €) é um fortíssimo argumento contra.
E já agora, Miguel, abusando da sua sapiência e dos seus conhecimentos no “milieu”, poderá apurar se existem outras 29ers de dupla suspensão e de alumínio no mercado ? É que eu só vejo as de carbono e essas estão a um preço para além do que é concebível.
Obrigado.
FBC
Francisco, infelizmente ando por fora do mundo do BTT. Há meia dúzia de anos, dir-lhe-ia todos os modelos do mercado, mas agora, estou mesmo desactualizado… 🙁
Obrigado na mesma, Miguel.
Vou continuar a fazer as minhas pesquisas e, calhando, já apareço no Cycle Chic de Lisboa com uma 29er de alumínio.
Olá Francisco,
As lojas Specialized têm bicicletas para test drives. É passar por uma e saber se esse modelo está disponível nessa ou noutra loja. Também podem responder a todas as suas dúvidas.
Boas pedaladas.
PS: Não trabalho na Specialized, mas conheço imensa gente que lá trabalha!
Obrigado, Alexandra.
Vou pesquisar cheio de “vício”, ando cheio de vontade de experimentar a Epic Comp.
FBC
Boa noite Miguel a bicicleta deste artigo agrada-me bastante e já a testei sendo que responde ao que pretendo de uma bicicleta neste momento. No entanto ao andar nela verifiquei sistemáticamente um problema de travagem com a roda da frente que leva a uma vibração e ruído. A sua apreciação aponta para um problema de concepção. Não põe a hipótese de este problema ser apenas de fabrico desta bicicleta? Agradeço a não publicação do meu mail e agradeço também qualquer informação mais que me possa dar. Os melhores Cumprimentos, Miguel Pacheco
Boa noite Miguel. O problema que verifiquei, tem a ver com a falta de rigidez da roda 700C, e da enorme torção a que é sujeita com o travão de disco. No entanto, na bicicleta que testei, embora essa torção fosse visível, nunca afectou a travagem ou provocou a tal vibração e ruído. É pena que a versão da Haul que vem com v-brakes, tb veja o sistema de mudanças “despromovido” para um com desviador, ao invés do excelente sistema de cubo Nexus… Mas terá como vantagem, um preço mais em conta.